sábado, 1 de outubro de 2011

Compras Coletivas em Campo Grande abrem as portas para os pequenos negócios

O site de compras coletivas é um modelo de negócio que está aquecendo a economia e abrindo as portas do e-commerce para milhares de pequenos negócios locais. Em apenas dois dias o empresário Danny Huang vendeu 1059 alimentações em um site de compras coletivas. Se fosse esperar os clientes visitarem seu restaurante, demoraria muito mais tempo para atingir esta marca.

“Porque eu não pensei nisso antes” questiona empresário Danny Huang, 37, que afirma que essa ideia é fantástica. Huang conta que anunciar nesses sites tem os pontos positivos e negativos. “A experiência positiva é a propaganda, uma vez que se investe dinheiro em qualquer tipo de propaganda, seja em outdoor, rádio, televisão entre outros, mas o consumidor que acaba ganhando pela promoção oferecida. Já o lado negativo, seria a falta de preparo dos estabelecimentos para atender a demanda, uma vez que o atendimento tem que ser bom e igual para todos, não discriminando os clientes que compraram os cupons promocionais”, explica.

Os empresários precisam ficar atentos às contas. Embora todo o conceito de compras coletivas esteja focado em marketing, se houver prejuízo na venda, isso pode ser perigoso para o equilíbrio do negócio. Os lojistas apostam na fidelização e na compra de outros produtos ou serviços além do que foi anunciado no site.

“Um cliente vêm à loja com o cupom, acaba fazendo um serviço ou outro a mais, e se o atendimento for bom, ele volta”, afirma Adair Oliveira, que vendeu em um site de compras coletivas pinturas de pára-choque a preço bem abaixo, pois estava com uma baixa demanda no período.

“O cliente comprou uma pintura de pára-choque, mas já tinha uns amassadinhos no carro. Fizemos um orçamento e ele acabou fazendo todo o trabalho, o que compensou bastante, pois não era meu cliente, veio através do desconto. Sem falar que a divulgação que foi feita acaba dando retorno”.

Em Campo Grande, o primeiro site de compras coletivas nasceu em setembro de 2010, e de lá pra cá, já existe mais de 30 sites com este formato na capital. “Eu tive a idéia de montar um site de compras coletivas quando conheci o Peixe Urbano e analisando, achei o modelo de negócio muito rentável”, afirma o publicitário Renato Koshiyama, 32, do Poupe Grande, primeiro site de compras coletivas da capital.

Vindo se São Paulo, Renato afirma que não demorou nem um mês depois do lançamento do seu site, para que uma “enxurrada” de outros sites viesse a aparecer. “Alguns totalmente sem nenhum tipo de investimento, pessoas totalmente aventureiras, motivadas pela ilusão de ganhar dinheiro fácil. E para ganhar dinheiro neste negócio é preciso ter um mínimo de estrutura e divulgação, além de um trabalho sério e focado”, conclui.

Assim como Renato, Adriano Silva, estudante de direito também resolveu investir neste modelo de negócio, e criou seu próprio site de compras coletivas, o Hiper Legal. Ainda com menos de dois meses de funcionamento, o pequeno empresário acredita que apesar da concorrência acirrada, é um negócio extremamente positivo para as empresas e o consumidor final.

“Hoje, em torno de 30% dos sites já estão deixando de existir, e como todo negócio seguirá em frente os que fizerem um trabalho sério e diferenciado. Os sites são cópias uns dos outros e não apresentam nada de novo. Isso que queremos mudar, nos tornar próximos dos negócios locais, entender seus anseios e necessidades e ajudá-los a crescer, crescendo junto com eles”, afirma Adriano.

Ele conta que muitos consumidores reclamam dos sites, mas a maioria do problema não está em usar a compra coletiva e sim em não saber usá-lo. No blog Ouvidoria Urbana há diversos relatos de experiências bem sucedidas, mais do que mal sucedidas, e se for observar bem, o mau atendimento proposital dos estabelecimentos é a maior causa de reclamação. Segundo ele, o consumidor não costuma ler as regras da oferta, muito importante neste caso. E acabam gerando conflitos e reclamações. Os parceiros também muitas vezes subestimam o resultado e não enxergam que o tiro pode sair pela culatra se o atendimento não for especial e não souberem fidelizar o cliente.



Como funciona

Compra Coletiva é uma modalidade de e-commerce (venda via internet) que tem como objetivo vender produtos e serviços para um número mínimo pré-estabelecido de consumidores por oferta.

Por meio deste comércio os compradores geralmente usufruem da mercadoria após um determinado número de interessados aderirem à oferta, para compensar os descontos oferecidos que em média vão até 90% de seu preço habitual. Por padrão deste mercado os consumidores dispõem de um tempo limite para adquirir a oferta, que varia entre 24 horas e 48 horas após seu lançamento. Caso não atinja o número mínimo de pedidos dentro deste intervalo a oferta é cancelada.

Este modelo de negócio foi criado nos Estados Unidos por Andrew Mason, quando lançou o primeiro site do gênero em novembro de 2008, o Groupon. Aqui no Brasil o pioneiro foi o Peixe Urbano, iniciando suas atividades em março de 2010. Desde então, a Compra Coletiva se consolidou entre os brasileiros, beneficiando tanto as empresas que podem vender suas mercadorias em maior volume por conta de seu baixo preço, assim como os consumidores, que poderão adquirir bens com generosos descontos por estarem realizando uma Compra Coletiva. 

Compras coletivas na visão dos consumidores

A compra coletiva é uma típica compra por impulso. O modelo de compra coletiva junta um produto atrativo com um desconto expressivo e uma oportunidade com prazo certo para se extinguir. Tem-se assim a receita para uma venda bem-sucedida.  Segundo dados do Instituto Ibope-Nielsen indicam que no mês de setembro cerca de 5,6 milhões de internautas visitaram pelo menos um site de compra coletiva. Isso significa algo próximo a 10% dos usuários ativos da internet, percentual expressivo para um segmento tão novo.  Segundo a pesquisa, o público desses sites é predominantemente masculino (53,8%) e a faixa etária de maior concentração é entre 25 a 34 anos (38,3%). Esses dados divergem dos dados de clientes de sites de compra coletiva apresentados nos Estados Unidos onde a maioria absoluta é do sexo feminino e a faixa etária predominante é de jovens de 18 a 34 anos. Por outro lado, é compatível com o perfil do consumidor on-line brasileiro, de faixa etária próxima a detectada pela pesquisa e que até há pouco tempo era também majoritariamente masculino.

O publicitário Eduardo Araújo Silva, estudante, não quer nem ouvir falar em sites de coletivas. Segundo ele, o fato de ser uma compra por impulso, o modelo de negócio está fadado ao desuso. “Eu não planejo que vou comprar um crepe, vou lá e compro na hora que me der vontade. Não acredito que seja um modelo que continue crescendo. Vão sobrar poucos sites que realmente vão vender alguma coisa”, afirma.

Já Ana Paula Miranda, publicitária, não só utiliza os sites de compras coletivas, como recomenda, mesmo tendo algumas experiências negativas. Ela relata que todos os dias visita a maioria dos sites para ver o que estão ofertando e não perde tempo. Se tiver algo que interessa, ela vai logo adquirindo, mesmo que não conheça o lugar. Foi assim que ela comprou um pacote de pé e mão em um salão bem localizado, por um preço incrivelmente barato.

“Eu marquei hora e fui até o salão, quando cheguei, a manicure pediu pra eu esperar ela almoçar primeiro. Achei muito estranho. Enquanto esperava fiquei observando o local, extremamente sujo, o que foi me deixando apreensiva. A manicure era péssima, a pior que já vi na vida. E quando me atendeu, contou que era free lancer no salão, ou seja, foi contratada para atender a demanda da promoção no site. Fiquei pensando em como o dono do salão foi sem visão. Vendeu mais de 500 cupons, contratou gente free lancer sem qualidade nenhuma, pois ele nem a conhecia e fez um péssimo atendimento, vendendo uma imagem terrível do salão. Lá eu nunca mais ponho meus pés”, desabafou Miranda.

Mesmo tendo experiências negativas, Ana Paula ainda continua aproveitando as promoções. Cita o exemplo de uma empresa de depilação que atendeu no horário, cumpriu o que prometeu e ainda fez um cadastro e entrou em contato posteriormente. “Virei cliente mesmo depois da promoção e hoje pago o preço real sem reclamar”, explica.

Ana Paula aprova o modelo de negócio, pois é uma oportunidade para o comerciante mostrar melhor a seu trabalho e cativar novos clientes. Se ele souber fazer isso, terá um cliente pelo resto da vida. “Se atender mal eu não volto mais e ainda falo para todas as minhas amigas”, conta ela.

Experimentar novos pratos e conhecer lugares é o que motiva Edson de Lima Bobadilha, Designer Gráfico, 24 anos, a utilizar sites de compras coletivas. “Eu já comprei muita coisa, até flores. Toda semana compro algo, mas o que mais me atrai são entretenimento e alimentação. Gosto muito de conhecer lugares que normalmente eu não iria, e o site me proporciona isso.”

Bobadilha afirma que são poucos os sites que ele confia. Até mesmo o layout de alguns faz com que ele não faça seu cadastro. E relata que também já foi mal atendido em um local.

“Comprei o cupom de uma pizza e levei minha namorada. O local eu já conhecia, então não pensei duas vezes quando vi a oferta. Chegando lá, após mostrarmos o cupom, o garçom já mudou conosco. Colocou-nos em uma mesa suja, deu as costas e foi para dentro. Ao voltar estava com o bloco de anotações, apenas. Pedi que limpasse a mesa e me trouxesse o cardápio, o que ele acabou fazendo, mas sem nenhum entusiasmo”, relata.

Já Rafael Domingos de Mattos, 24 anos, programador, afirma que nunca foi mal atendido. Só fica um pouco chateado quando tem que marcar, mas entende. “Eu só confio em três sites aqui na capital, e nunca tive problema nem com os sites, nem com os parceiros. Acredito que é um modelo de negócio em que todos ganham: eu como consumidor, que tenho bons produtos e serviços por um preço mais baixo, o lojista que conquista novos clientes e o site que tem o seu percentual”.

O que dizem os especialistas

Os especialistas alertam para os prós e contras do negócio de compras coletivas. Segundo Cássio José, consultor financeiro, se o fornecedor elaborar sua planilha de custos corretamente sem perder a lucratividade com os produtos e serviços, conseguindo ainda assim oferecer descontos atraentes, já é um bom começo. “Geralmente os produtos oferecidos nos sites de compras coletivas não dão lucro ao estabelecimento, e o anúncio serve mais como divulgação e fidelização dos clientes. Oferecer outros produtos e “pacotes” aos compradores de forma eficaz pode compensar o investimento, agregando valor”, afirma.

Alguns cuidados devem ser tomados em relação à capacidade de atendimento da demanda causada pelo anúncio. Quando se atraem mais clientes o risco de desagradar a mais pessoas é maior, e a mídia que a princípio deveria ser positiva passa a ser (muito) negativa.  O cuidado com a qualidade nestes casos deve ser redobrado. Ainda, deve-se levar em conta o aumento do custo no produto/serviço oferecido, uma vez que além do desconto deverá ser paga também a comissão do site de compras coletivas (entre 20% a 60%) e por fim, a escolha do site é muito importante. Existe atualmente uma legislação que protege especificamente os consumidores nos sites de compras coletivas. Qualquer desrespeito pode ocasionar prejuízos maiores aos anunciantes, aconselha Cassio.

Na mira da Lei

Segundo dados do Reclame aqui, no Brasil, nos últimos 30 dias, os sites de compras coletivas Peixe Urbano, Clickon e Groupon somaram 2.753 reclamações. Já em Campo Grande, o campeão de reclamações é o Peixe Urbano, com 30, seguido do Clickon, com 12, o Arara Urbana com 2 e o Azeitona Preta com uma.

Devido a este aumento de reclamações e ações judiciais contra sites de compras coletivas é que desde o dia 4 de maio de 2011 tramita no Paraná um projeto de lei 1232/11, de autoria do deputado João Arruda do PMDB/PR, que visa regulamentar o funcionamento desse tipo de comércio eletrônico no Brasil e prevê, ainda, a criação de um selo de certificação de idoneidade do site, dando maior segurança ao consumidor.

O objetivo da lei é reunir todas as informações necessárias, da maneira mais clara e objetiva possível, para evitar propagandas enganosas. O resultado, caso este projeto venha a ser aprovado, será a regulamentação protegendo os direitos do consumidor, além de impor aos sites de compras coletivas um maior cuidado na escolha dos parceiros dos produtos que serão ofertados.

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